Raulino Reitz
“Um gênio é uma grande paciência” afirmou Dom Afonso Nieheus durante o sepultamento do padre Raulino Reitz. Há os que nascem gênios, como Mozart, e há os gênios que são construídos pelo trabalho médico, perseverante de uma vida inteira. Pessoas cujas genialidade constitui em perseguir um projeto na paciência cotidiana. Com muita certeza este deve ser o caso de padre Raulino Reitz. Durante 52 anos dedicou-se ao estudo da natureza, especialmente no campo da botânica, dia por dia, ano por ano, no interior das florestas, no seu gabinete, nas viagens, nos contatos com as pessoas... Nisso foi feliz, pois realizou-se e viu-se reconhecido pela comunidade nacional e internacional. A paciência fê-lo gênio”. (BESEN, 1990)
Raulino Reitz nasceu em Antônio Carlos, SC – Brasil a 19 de setembro de 1919, filho de Nicolau Adão Reitz e de Ana Wilvert Reitz.
Seu pai, um lavrador que já na época preocupava com a conservação do solo fazendo rotação com a plantas anuais e o ingazeiro (Ingá sessilis), influenciou muito em seu amor pela natureza e em sua luta para conservá-la (REITZ, 1963).
O estímulo inicial para formação do grande botânico parece ser múltiplo. Durante seu curso de Filosofia e Teologia no Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição - São Leopoldo/RS, conviveu com personalidades importantes na ciência. Conheceu PE. João Evangelista Rick, micólogo importante sendo na época uma grande autoridade neste ramo da ciência. Conviveu com PE. Balduíno Rambo, grande estudioso da Botânica do Sul do Brasil e PE. Aloysio Sehnem, especialista em Pteridófitas. RUBUSKE (1992) salienta que o grande responsável pelo impulso inicial à carreira de Raulino Reitz foi, no entanto, o PE. Pio Buck, organizador do Museu Anchieta, Porto Alegre. Este padre era coletor de insetos, chegando a somar 150 mil exemplares, com destaque aos coleópteros.
Mas não foi como cientista que esse suíço-alemão influenciou Reitz, mas como capelão da Penitenciária de Porto Alegre. Precisava o capelão de chás para os presidiários e pediu aos seminaristas que coletassem estas plantas. Reitz foi um dos que atendeu e passou a internar-se em bosques para descobrir e colecionar plantas ditas “chás”. Mas cedo não se contentou com semelhante tarefa e passou a herborizar seus achados, querendo conhecer-lhes a família e nome científico. Estava lançada a ideia de um grande botânico.
Como sacerdote é mandado trabalhar em vários municípios catarinenses (Turvo: 10/09/1943 a 25/01/1944; Sombrio: 25/01/1944 a 12/01/1946; Itajaí: 12/01/1946 a 25/11/1946; Orleães: 25/10/1946 a 11/01/1947), onde sempre aproveitava as horas de folga para ampliar suas coletas. Sua atividade de botânico catarinense cresce quando é enviado para lecionar no Seminário de Azambuja, município de Brusque (1947 A 1971). Integrado na equipe de malariologia (1949 a 1951) colaborou ativamente nas pesquisas fitossanitárias realizadas em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul pelo Serviço Nacional de Malária, sendo cognominado o “padre dos gravatás” por ter estudado esses criadouros de anofelinos, transmissores de malária.
Sua grande ambição toma forma a partir de 1951 quando idealiza o levantamento botânico do Estado de Santa Catarina. Traça seu plano de ação e durante catorze anos executa coletas por todo Estado de Santa Catarina, juntamente com Roberto Miguel Klein, seu amigo inseparável. Em 1965, lança os primeiros fascículos da Flora Ilustrada Catarinense e durante os próximos 25 anos trabalha na publicação de 149 fascículos desta obra.
Atuando em outras atividades, sempre tinha como fim a continuidade de sua obra no Herbário “Barbosa Rodrigues”. Foi diretor do Jardim Botânico do Rio de Janeiro durante o período de 1971 a 1975. Em 1976 é chamado para formar as bases da Fundação de Amparo e Pesquisa Tecnológica do Meio Ambiente (FATMA), órgão responsável pelo meio ambiente do Estado de Santa Catarina, onde ocupou até 1979, o cargo de vice-presidente. Permanece ainda como Superintendente-adjunto de Pesquisa Ambiental da Fundação de Amparo e Tecnologia até 1983. Durante esse período de trabalho na FATMA, elaborou as exposições de motivos e os antiprojetos dos parques, reservas e estações ecológicas de Santa Catarina (Parque Estadual da Serra do Tabuleiro – 90.000ha; Parque Estadual da Serra Furada – 1.320ha; Reserva Biológica Estadual do Sassafrás – 5.600ha; Reserva Biológica Estadual do Aguaí – 7.600ha; Reserva Biológica Estadual da Canela Preta – 1.844ha).
Viajou por muitos países, fazendo sempre contatos com botânicos e instituições de pesquisa onde pudesse buscar dados sobre botânica catarinense.
Recebeu muitos prêmios homenageando seu trabalho científico, composto por 45 livros e 114 artigos científicos enfocando Botânica, Zoologia e Genealogia. Com seu companheiro Roberto Miguel Klein, padre Raulino Reitz recebeu o Prêmio Global 500, da Organização das Nações Unidas (ONU), na Cidade do México, em 1990.
Homem metódico e de muito trabalho diário, Raulino Reitz deixou obra importantíssima para a ciência. Sua morte inesperada no dia 20 de novembro de 1990 interrompeu seu sonho de em mais 10 anos completar a Flora Ilustrada Catarinense.
“Com a morte de Reitz perde a Botânica brasileira um de seus mais atuantes cultores e de cuja obra cabe dizer, num comentário final, que foi o organizador da mais abrangente e bem elaborada flora regional de nosso país no presente século”.(MELLO FILHO, 1991)